14 anos de Metro Mondego

Spread the love

Há casos reais que mais parecem ficção. Em 1996, foi constituída a empresa Metro Mondego, tendo como missão criar um sistema integrado de transporte de metro que incluiria os concelhos de Coimbra, Lousã e Miranda do Corvo, “optimizando a utilização dos recursos públicos”.

A promessa era criar “um modo ecológico, moderno, confortável e seguro com uma adequada oferta de serviço” tendo em vista a promoção da mobilidade da população.

Entretanto, passaram 14 anos. Entre concursos e mais concursos para a definição do traçado (sendo que o primeiro tardou longos anos), entre indefinições sobre “por onde começar”, entre a conjugação dos diferentes interesses em jogo, é já difícil detalhar toda a história do processo. Os cidadãos destes municípios sabem-no, viveram todos os episódios. Foi sempre considerada uma obra prioritária, mas a prioridade não foi suficiente para que houvesse avanços significativos em todos estes anos. Recentemente, alguma coisa começou a mexer: destruiu-se a linha de caminho de ferro Lousã-Coimbra. Ia finalmente avançar! Ia, até que o Plano de Estabilidade e Crescimento de Sócrates e Passos Coelho impôs que se cortasse aqui. Deixou de interessar que tivessem passado 14 anos e que se tenha criado uma estrutura, alimentada pelo dinheiro dos contribuintes, para que o projecto avançasse.

Ao longo dos anos, os movimentos de cidadãos, como a associação Pro Urbe e os movimentos cívicos da Lousã, mobilizaram-se em torno deste projecto, mesmo que com opiniões diferentes sobre as opções escolhidas. Houve tempos em que o que aconteceu neste processo foi um claro exercício de democracia. Mais recentemente, e após o anúncio de que, afinal, a obra não iria avançar, foi lançado um abaixo-assinado expondo este inusitado “desvio”. Muitos cidadãos o assinaram. Muitos mesmo. Têm nomes: Bruno Ferreira e António Luís Fernandes Quintans, por exemplo. Há uns anos, pediu-se discussão pública e alguma houve. Agora pede-se que não se abandone o projecto. Mesmo não concordando totalmente com a opção escolhida, é difícil aceitar que os “grandes” projectos públicos possam ter este destino sem que isso pareça ser um problema para quem assim decide.

Estou a falar-vos de Coimbra, Miranda do Corvo e Lousã. Se fosse um conto de ficção os nomes das localidades pouco importariam. Contar-se-ia uma história em que os protagonistas seriam, provavelmente, aqueles que perderam uma linha de comboio, pessoas que ficaram mais longe umas das outras. Mas, na história da vida real, a estas pessoas nunca foi dado o protagonismo. A cegueira dos cortes impôs-se aos dinheiros públicos já investidos e a uma aposta na ferrovia e numa política de mobilidade, associada à criação de redes eficazes de transportes públicos.

Afinal, 14 anos parecem não ter sido suficientes para que uma “prioridade” se concretizasse.

6 Comments

Responder a A André Cancel

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

*

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.