Ressaca

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Passados alguns dias sobre o fim do Mundial de 2010, vive-se na África do Sul um misto de orgulho pelo inequívoco sucesso da organização e de ressaca pela falta da euforia, da festa e da ocupação vespertina e nocturna.

Voltemos, no entanto, atrás e vejamos alguns factos curiosos que foi possível apurar a partir da comunicação social sul-africana (com destaque para o Sunday Times): em primeiro lugar, foram vários os caprichos dos argentinos, a começar pelo facto de os dois quartos de banho reservados para Maradona terem sido completamente remodelados, com particular destaque para a instalação de uma sanita de último grito, com jacto de três modos de aspersão incluído. Dir-se-ia que os pés de ouro e a “mão de Deus” (a tal do golo marcado à Inglaterra) se encontraram a meio caminho, dourando o terminus da espinha de “El Pibe”.

Ainda no que à rapaziada das pampas diz respeito, o Centro de Alta Performance de Pretoria teve que mandar pintar os quartos de branco e encomendar seis PlayStations, provavelmente para os craques fazerem o que não saía bem em campo; acredito mesmo que tenham conseguido vencer a Alemanha na consola da Sony.

Fazendo jus à fama de bons garfos, os argentinos não esqueceram a mesa, pelo que houve que providenciar: dez pratos quentes por dia, catorze saladas por refeição, três molhos para massa e três pudins igualmente por reunião gastronómica, um churrasco a cada três dias e gelado disponível vinte e quatro horas.

E enquanto uns cuidavam do corpo, os outros, por sinal rivais, cuidavam da alma: os mexicanos trouxeram o seu próprio padre! Pelos vistos, depois do jogo com os argentinos terá sido útil para a extrema-unção…

E ainda pelas Américas, os nossos irmãos brasileiros quedaram-se pelo café quente e biscoitos e pelo embargo ao chocolate no hotel. Quente era também a piscina, que tinha que estar a 32.º e ser coberta.

Com estatuto de campeã, a Itália trouxe equipamento de ginásio e massas transalpinas e pediu fibra óptica para ver os canais do “país da bota”.

Também viradas para o desporto as selecções da Nova Zelândia e da Eslováquia pediram, respectivamente, lições de golfe e duas mesas de ping-pong e um quadro electrónico de dardos.

Voltando à mesa, os rapazes do Leste europeu trouxeram farinha para bolinhos com sabor caseiro, ao passo que os norte-coreanos se ficaram pelo arroz coreano, em todos os momentos de nutrição.

Sobre os portugueses é o que se sabe… Pouco futebol e muito vedetismo na bagagem…

Creio, porém, que são devidos cumprimentos à África do Sul por um Mundial que correu bem e em que as fronteiras do país registaram um milhão de entradas e os seus estádios três milhões e duzentas mil assistências, número só batido pelo campeonato mundial norte-americano.

A economia sentiu, por sua vez, a massagem de doze mil milhões de rands e a TV nacional teve a maior audiência de sempre para um evento desportivo: sete milhões e setecentos mil espectadores no jogo que opôs os locais aos mexicanos.

A incógnita é sobre os dias seguintes. Permanecerão os avanços na segurança? Continuarão a nascer infra-estruturas? Veremos…

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